Mas em 2021, ano mais crítico, a inflação acumulada foi 10,1%. Neri explica aqui a contradição: o Brasil, que é um grande exportador de alimentos, se beneficia com a alta dos preços. Mas a sua população, sobretudo a mais pobre, acaba penalizada. O resultado foi o crescimento da insegurança alimentar no país em 2021.

Quando a gente olha 2022, isso no Brasil, a taxa de extrema pobreza cai, apesar do efeito da pandemia. Mas a insegurança alimentar chega a 34% em 2022 [segundo pesquisa da FGV Social]. Os preços dos alimentos subiram por conta de vários elementos, é verdade, e a insegurança alimentar atinge seu máximo em 2021, ficando em 36%.
Marcelo Neri, diretor da FGV Social

O forte aumento no custo de alimentos e outros bens essenciais que começou em 2021 passou a ser uma nova realidade para muitas famílias em todo o mundo, que tentam comprar óleo, pão ou farinha sem saber quanto poderão pagar, ou quanta fome elas e seus filhos terão que suportar hoje.
Oxfam

Por outro lado, o relatório aponta que com a escalada dos preços, as empresas dos setores de alimentos, energia e medicamentos atingiram lucros recordes. O relatório evidencia que as companhias conseguiram aumentar os lucros no ritmo mais rápido desde 1955.

O aumento da inflação de alimentos prejudica a população do planeta, mas gera lucros recordes para empresas que trabalham no setor. Destaco o caso da Cargill, que em 2021 teve o maior lucro da sua história [na ocasião], uma empresa de mais de 100 anos. [Houve] O aumento do lucro das empresas petrolíferas, por conta da valorização do valor do barril do petróleo. Isso impacta o custo de vida da maior parte da população.
Jefferson Nascimento, coordenador de Justiça Social e Econômica da Oxfam

Ricos ainda mais ricos

Enquanto a renda média da população diminuiu, bilionários ficaram mais ricos. A riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo mais que dobrou (114%) desde 2020, enquanto 60% da humanidade ficou mais pobre. As fortunas deles, somadas, passaram de US$ 405 bilhões (valor corrigido pela inflação) para US$ 869 bilhões entre março de 2020 e o final de novembro de 2023 (em média, juntos, eles ficaram US$ 14 milhões — ou R$ 69 milhões — mais ricos por hora). Veja abaixo quem são:

Fonte: UOL